Os exames de imagem realmente causam câncer?

Posted on: 2019-04-03

Por: Eduardo Kaiser Ururahy Nunes Fonseca – CRM 176628

Desde antes dos primeiros anos da faculdade, ouvimos dizer do potencial carcinogênico das radiações ionizantes e que não haveria uma dose segura de exposição. Esse senso comum muitas vezes é explorado quando estudamos as limitações dos métodos de imagem, sendo o uso da radiação ionizante frequentemente apontado como ponto negativo da tomografia computadorizada, dos métodos de medicina nuclear e mesmo da radiologia convencional.

No entanto, pouco se questionam da onde vem esta informação e qual sua base científica.

No artigo intitulado “Does Imaging Technology Cause Cancer? Debunking the Linear No-Threshold Model of Radiation Carcinogenesis”, os autores se propõe a discutir o modelo utilizado para esse senso comum, pormenorizando suas limitações e propondo um modelo alternativo que considera algumas descobertas mais recentes de biologia molecular.

É inegável que a mídia leiga por vezes se utiliza de matérias sensacionalistas, supervalorizando os malefícios da radiação ionizante, mesmo aquela proveniente da imagem médica de baixa dose (como o não tão antigo episódio do uso de protetores de tireoide para o exame de mamografia) – causando a chamada “radiofobia”.

Mas de onde vem este conceito de que não existe dose segura de radiação relacionada ao risco de câncer? Essa é a primeira pergunta respondida pelos autores no presente artigo – eles apresentam o modelo chamado de “linear non-threshold model” (LNT), que determina um risco maior de câncer com o aumento da radiação e que não haveria a dose baixa segura de radiação, como também exploram suas limitações.

Usando por base os dados pós-exposição à bomba atômica (considerado um dos grandes paradigmas para os efeitos da radiação ionizante e seu risco potencial de carcinogênese, originados do chamado Life Span Study –LSS, os autores destacam diversas falhas do LNT, dentre elas ausência de aumento da frequência de câncer nos sobreviventes expostos a doses de até 150 mSv e o baixo índice de correlação para o segmento da curva referente as doses que variam de 0 até 0,2 Gy (200 mSv), o que sugere que um modelo que utilize o conceito de limiar de dose talvez fosse mais adequado para baixas exposições, como a que ocorre com o exames de imagem.

imaging tests cancer

Os autores seguem trazendo dados mais recentes derivados do LSS que apontam para uma relação negativa entre a exposição a baixas doses (considerado = <200 mSv) e o risco de câncer, o que não somente questiona o senso comum de que a exposição a baixas doses poderia levar ao câncer como também mostra um suposto efeito protetor (chamada hipótese hormética – conceito que postula que haveria uma resposta bifásica a determinada exposição, geralmente com uma zona de resposta favorável em baixas doses ou exposições e uma resposta desfavorável a altas doses – como diria para Paracelsus: ‘‘Poison is in everything, and no thing is without poison. The dosage makes it either a poison or a remedy’’).

Os autores dão seguimento mostrando ausência de plausibilidade biológica para o modelo do LNT, sugerindo que mesmo que a extrapolação do risco de neoplasia pelo LNT fosse válida, ela condicionaria a um número insignificante de mutações comparativamente as que já acontecem de forma randômica. Em outra seção do artigo, os autores também utilizam essa extrapolação do LNT para mostrar que mesmo que real, o risco de câncer fatal trazido por um exame tomográfico com dose efetiva de 10 mSv seria de 0,06%, minúsculo quanto comparado ao risco basal de 21% de um americano: “The average lifetime risk of dying from cancer in the United States is approximately 21%. A CT examination would theoretically add only another 0.06% to the lifetime risk of cancer death, bringing the LNT-based calculated risk to 21.06%. Put this way, the LNT-based risk of cancer due to a CT scan can be seen as miniscule”.

Além disso, os autores trazem algumas descobertas de biologia molecular que mostram uma possível resposta adaptativa do organismo a baixas doses de radiação, incluindo produção substâncias antioxidantes, aumento do reparo do DNA de dupla fita e melhora posta imune.

Outro ponto interessante do artigo é a discussão da superestimação do risco de radiação nos acidentes de Fukushima e Chernobyl e sua consequências, com mais de 1000 mortes no primeiro decorrente de  políticas de manejo de risco que levaram a evacuações populacionais e abortamentos devido ao medo da radiação. Trazem ainda dados de estudos que demonstraram não ter havido aumento do risco de câncer em uma coorte de mais de 4000 que trabalharam numa área contaminada próxima a Chernobyl e foram expostas a uma dose média de cerca de 10 cGy

Os autores ainda discutem como o modelo do LNT não foi considerado durante a elaboração de políticas públicas de Controle Ambiental nos Estados Unidos.

Como conclusão, os autores destacam que as baixas doses de radiação (<100-200 mSv) poderiam ter um efeito benéfico considerando-se o modelo hormético e as recentes descobertas de biologia molecular envolvendo reparos celulares e respostas adaptativas a baixas doses de radiação e que esses novos avanços não foram considerados quando da elaboração do modelo de LNT.

Para mais informações, consulte o artigo completo: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Does+Imaging+Technology+Cause+Cancer%3F+Debunking+the+Linear+No-Threshold+Model+of+Radiation+Carcinogenesis


"Promote through education safe diagnostic imaging in Latin America with emphasis on radiological protection"

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